Os Bancos, o Esquema de Ponzi mundial, os Resgates e o regresso da Geopolítica


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(quase) Sem Palavras

Amarras: Neoliberalismo e Pobreza

Uma questão dos nossos dias? Não, um problema de sempre!


 
Almeida Garrett, por Odete Santos

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Almeida Garrett

“Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? – Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.”

Eça de Queiroz, O Primo Basílio

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Eça de Queiroz

“O Alves Coutinho calava-se, com prudência, engolindo buchas de pão.
— Eu que caiam ou que fiquem, – disse Julião – que venham estes ou que venham aqueles… Obrigado, conselheiro – e recebeu o seu prato de vitela – … é-me inteiramente indiferente. É tudo a mesma podridão!
O país inspirava-lhe nojo; de cima a baixo era uma choldra; e esperava breve que, pela lógica das coisas, uma revolução varresse a porcaria.
— Uma revolução! – fez o Alves Coutinho assustado, com olhares inquietos para os lados, coçando nervosamente o queixo.
O conselheiro sentara-se, e disse, então:
— Eu não quero entrar em discussões políticas, só servem para dividir as famílias mais unidas, mas só lhe lembrarei uma coisa, Sr. Zuzarte, os excessos da Comuna…
 Julião recostou-se, e com uma voz muito tranquila:
— Mas onde está o mal, senhor conselheiro, se fuzilarmos alguns banqueiros, alguns padres, alguns proprietários obesos e alguns marqueses caquécticos? Era uma limpezazinha!… – E fazia o gesto de afiar a faca.
O conselheiro sorriu, cortesmente; tomava como um gracejo aquela saída sanguinária. O Savedra porém interpôs-se, com autoridade:
— Eu no fundo sou republicano…
— E eu – disse Jorge.
— E eu – fez o Alves Coutinho, já inquieto. – Contem-me a mim também!
— Mas – continuou o Savedra – sou-o em princípio. Porque o princípio é belo, o princípio é ideal! Mas a prática? Sim, a prática? – E voltava para todos os lados a sua face balofa.
— Sim, na prática! – exclamava o Alves Coutinho, em eco admirativo.
— A prática é impossível! – declarou o Savedra. E encheu a boca de vitela.”

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